domingo, 26 de setembro de 2021

BEIJO GREGO SEM CENSURA E SEM TABUS




A revista MARIE CLAIRE é sempre muito corajosa em suas matérias sobre sexo. Voltada para o público feminino, não tem meias palavras e publica textos e artigos sem moralismos, para a educação sensual e sexual de leitoras, o que é um ótimo serviço e com o qual este blog logicamente se congratula. Por isso, escolhemos uma matéria dessa revista para falar de um tema tabu: o beijo grego.


Não se sabe bem a origem do nome – beijo grego. Há outras denominações para ele. Mas isso não importa. O que é preciso ficar claro é que chupar um cu, desde que tomadas todas as medidas de higiene, é muito prazeroso. Tanto para quem lambe e chupa quanto para quem é lambido e chupado. Como já disse a poeta, “cu é lindo”. Então, aprendam (se ainda não o sabem) a gozar dessa delícia com o texto abaixo:



BEIJO GREGO SIM, POR FAVOR

NATACHA CORTÊZ




Dos tantos episódios marcantes de Girls, a série escrita, dirigida e protagonizada pela norte-americana Lena Dunham, um ganhou gifs, tutorial e polêmica extra na internet. Falo do que estreia a quarta temporada da série, exibido em 2015, em que Marnie (Allison Williams) recebe um beijo grego nada pudico de Desi (Ebon Bachrach).


A polêmica ficou, claro, por conta da região em que esse beijo é dado: o ânus. Aposto que você consegue imaginar o conteúdo dos comentários a respeito do ato. “Que tipo de gente se presta a beijar um cu? Que tipo de gente se presta a receber um beijo no cu?”, poderia ser um deles. Particularmente, gosto muito de um título de uma matéria da época que diz que “o beijo grego de Gilrs chocou a família brasileira”. Me faz pensar no que se espera de uma “mulher de família”. Dar e/ou receber um beijo grego certamente não faz parte da lista. Será mesmo?!


Abaixo, oito relatos de mulheres, de família ou não, que gostam da coisa e enxergam nela sacanagem das boas, mas ainda emancipação no sexo. Elas contam de suas experiências e dão dicas de como deixar o beijo grego menos tabu e mais prazer. Caia de boca :)



Um jogo muito delicioso de estar em uma zona ‘nova’


“Nunca fui uma mulher muito chegada em beijo grego - não gosto de receber e nunca tinha pensado em dar um. Até que, lá pelos meus 27 anos, tive um envolvimento com um boy que, no meio do sexo oral, parecia querer mais... Como gosto muito de fazer sexo oral, fui deixando rolar, descendo mais, chupando os testículos, passando pela zona intermediária e, quando vi já estava lá. E não estava sozinha: ele não só pareceu gostar muito, como chegava a erguer o quadril para que eu alcançasse todas as áreas possíveis mais facilmente. Acabou que essa experiência me abriu para gostar disso... acho que, mais do que o lugar em si, há um jogo muito delicioso de estar em uma zona ‘nova’, às vezes nunca antes descoberta. Sentir o outro morrer de tesão, inédito ou não, ao mesmo tempo em que quebramos juntos um tabu, ajuda muito a criar intimidade e aumenta ainda mais a excitação. A liberdade de se permitir experimentar, aproveitando o tesão da forma como ele vai se desenvolvendo, é maravilhosa. Ser fiel ao próprio desejo não deveria nunca ser uma ousadia.” L.B., doutoranda em Literatura, 30 anos



Senti um tesão que, juro, nunca antes havia experimentado


“A verdade é que até meses atrás eu nem havia ouvido falar em beijo grego. E então, como desejar uma coisa que você não conhece? Bem, era meio de 2019 e eu e uns amigos fechamos um fim de semana na praia. Amigos de longa data, mas com novas ambições sexuais, digamos assim. Era um momento em que todo mundo, de repente, topava e queria se pegar. Tomamos uns drinks a mais e pronto: começou a festa. Beijei um amigo, dois amigos, até que parei em um deles. Gay, mas com uma pegada deliciosa. Fomos para um dos quartos da casa e ali transamos como dois desconhecidos. Digo isso porque todo o amor fraternal que sentimos um pelo outro foi esquecido naquele momento. Beijávamos o corpo um do outro compulsivamente. Beijos de língua, intensos e demorados. Ele chegou no meu ânus como se estivesse chegando em minha boca, naturalmente. Ficou ali longos minutos. Sou incapaz de mensurar se durou 5 ou meia hora. Receber aquele beijo me rendeu uma sensação inédita. Não é como sexo oral na vulva. O prazer é diferente. Senti um tesão que, juro, nunca antes havia experimentado. Depois dessa transa, o beijo grego virou item de luxo no meu sexo. Quero receber e quero dar. De preferência, sempre.” T.L., artista plástica, 34 anos



Gozei berrando de prazer


“Meu primeiro beijo grego foi um desastre. Eu não queria receber, a pessoa forçou a barra e fiquei super incomodada. Depois disso, passei anos acreditando que beijos gregos não eram pra mim. Até que rolou um sexo divino com uma namoradinha há uns dois anos e mudei de ideia. A menina começou me dizendo que beijar o ânus era algo fundamental para ela numa transa. Topei e fui fazer minha parte. Logo depois, ela me convenceu de que eu também deveria experimentar receber o tal beijo. Foi a melhor coisa que me aconteceu em um sexo. E não exagero. Ela me fez uma mistura de sexo oral, lambendo minhas vulva e vagina, com um beijo grego muito molhado que me levou à loucura. Gozei berrando de prazer. O segredo para dar muito certo? Ficar totalmente à vontade, não medir os movimentos, deixar que o outro se lambuze. Para mim, ajudou deixar a luz do ambiente baixa e sentar na cara da menina. De repente funciona para você também.” A. F., advogada, 29 anos



Peça por beijo grego e ofereça beijos gregos


“Há duas coisas no sexo das quais não abro mão. Que me chupem a xoxota e que me beijem o cu. Sobre o segundo, aprendi que gostava depois de tanto treinar em um ficante que era super fã do ato. Toda vez que transávamos, quando eu fazia boquete nele, ele oferecia o cu. O rapaz nunca teve vergonha - coisa rara entre homens héteros. Ele também gostava que eu enfiasse de leve o dedo ali. Fiquei especialista em beijo grego por causa dele, que também gostava de retribuir. Passamos noites e noites investindo nessa carícia. O meu conselho para quem nunca fez é: não espere mais. Peça por beijo grego e ofereça beijos gregos. Eles deixam qualquer um feliz e são uma nova experiência de prazer sexual. Não há risco na tarefa. Quanto à rituais preparatórios, sugiro um bom banho e nada mais. Diferente do sexo anal, o beijo grego não inclui penetrações mais profundas. Então, é só estar todo mundo cheirosinho que a coisa flui lindamente.” A. F., maquiadora, 36 anos



Ele estava determinado em me ver gozar recebendo o beijo e, conseguiu


“Tem um cara com quem eu saía que adorava fazer beijo grego em mim. Confesso que no começo aquilo me deixava apreensiva, eu não conseguia relaxar e, logo, não curtia de verdade. Mas tivemos uma conversa. Ele perguntou se eu queria que ele parasse com os beijos, e respondi que não, que eu podia aprender a gostar se me sentisse mais confortável. Então planejamos uma noite regada a vinho e ele prometeu que faria tudo muito devagar, estimulando o meu clítoris ao mesmo tempo. A obsessão dele em fazer dar certo me encheu de tesão. Ele estava determinado em me ver gozar recebendo o beijo e, conseguiu. Naquele encontro, foram duas vezes. Não vou mentir: depois desse boy, nunca mais rolou beijo grego comigo. Tenho receio de sair pedindo e, ao mesmo tempo, preciso que exista a vontade parta do cara, o que nunca acontece.” B. G., publicitária, 27 anos



O que me fascina em beijar ali é o estado de submissão em que o sujeito entra


“Quando o assunto é beijo grego, meu tesão fica em lamber o cu dos caras com quem saio. Receber as lambidas é legal, mas não tão legal quanto enlouquecer um cara beijando freneticamente o ânus dele. Vai por mim. Apesar dos homens esnobarem a região, ficam derretidos de prazer quando você chega perto delas. O que me fascina em beijar ali é o estado de submissão em que o sujeito entra. Me sinto completamente no controle. Gosto de começar chupando o cara, vou beijando as bolas e indo em direção ao ânus. Penso que se você for devagar, a pessoa mal vai sentir a transição entre uma região e outra. Uma vez ali, começo a beijar sutilmente e vou lambendo devagar e sem pressão. Em poucos minutos o moço já se esqueceu que o cu era um lugar proibido. Assim como é gostoso estimular a vagina e clítoris das minas enquanto você mete um beijo grego nelas, é gostoso acariciar os paus dos caras. Acho que só melhora a experiência. No mais: sou sempre a favor de conversar durante o sexo. Dizer as coisas que você curte e ouvir o que seu parceiro curte. Honestamente? Se você não gosta de receber, é capaz que goste de dar beijos gregos. Vale experimentar os dois lados.” M. B., professora, 31 anos



Ele me lambuzava com saliva como quem chupava um sorvete irresistível


“Eu não esperava um beijo grego quando saí com T*. Eu nem esperava que a gente transasse naquele dia, nosso primeiro encontro. Mas a química entre nós foi instantânea, intensa e inexplicável. A gente não se deu bem conversando, se deu bem mesmo se comendo. Nada de errado com isso. Pelo contrário. Adorei que nossa afinidade foi puramente sexual. Se não fosse dessa forma, talvez não tivéssemos nos divertido tanto nas vezes em que ficamos. Voltando ao beijo grego: pode parecer brega, mas me senti presenteada com as lambidas de T. Ele me lambuzava com saliva como quem chupava um sorvete irresistível. Brega de novo, eu sei. Mas não há outra coisa na minha cabeça quando lembro da cena. O prazer, desconfio, estava na liberdade que experimentamos quando juntos. A gente se permitiu tudo e qualquer coisa. Por isso, o beijo grego foi um bom começo para o que viria depois. T me comeu em todas as posições pensáveis. Nos ‘intervalos’, voltava a me chupar e a me beijar o ânus. Enfim, talvez aquela tenha sido a transa mais quente da minha vida? Talvez. O objetivo desde então é repeti-la.” M. P., empresária, 39 anos



Sou fã de beijo grego, dar e receber, e todas as maneiras de usar o cu


“O cu sempre foi uma área proibida pra mim. Medo e tabu por muito tempo ficaram entre mim e o beijo grego. Até que conheci um cara que gostava de receber. É maluco pensar que descobri que o cu era uma área incrível a ser explorada chupando o rabo de um cara, mas foi exatamente isso que aconteceu. Chupei o cu dele com gosto, senti muito tesão em ver ele gozar por conta disso e então perdi o medo de liberar o meu. Que decisão. Ele começou me chupando na boceta e depois que eu estava bem relaxada e com tesão, ele desceu. Começou lambendo e deixando ele bem molhado, depois chupou com o vigor da chupada de um clitóris e permaneceu na função enquanto eu me estimulava, até que eu tivesse um dos orgasmos mais intensos da vida. Desde então eu assumidamente sou fã de beijo grego, dar e receber, e todas as maneiras de usar o cu.” N.F., jornalista, 26 anos




Fonte:


29 out 2019 - 06h00 atualizado em 09 set 2021 


sexta-feira, 17 de setembro de 2021

ROBERT MAPPLETHORPE: A FORÇA DO NU MASCULINO

 



Uma postagem especial em homenagem a um grande artista – Robert Mapplethorpe, para o prazer de quem aprecia um corpo masculino bem fotografado. Sua obra é bastante vasta e seus interesses fotográficos iam de fotos de nudez, sadomasoquismo a flores. No entanto, vou privilegiar neste post suas fotos de nus masculinos.

Uma breve biografia: Robert Mapplethorpe nasceu em 4 de novembro de 1946, em Floral Park, estado de Nova York. Ingressou no Pratt Institute, no Brooklyn, para estudar Artes Gráficas, mas largou a faculdade em 1969, antes de se formar. Robert passou a morar com uma amiga de longa data, Patti Smith, de 1967 a 1972, que apoiava sua arte e com quem manteve uma longa amizade.


Tornou-se famoso por suas fotografias de nus masculinos, cheias de erotismo, depuradas por meio de uma técnica de preto-e-branco sutil e purista, que se tornou sua marca pessoal. Faleceu em março de 1989, aos 42 anos, devido a complicações decorrentes do vírus da AIDS. Cerca de um ano antes de sua morte, já doente, Robert criou a Fundação Robert Mapplethorpe Inc., com o objetivo de propagar seu trabalho, sua visão criativa e promover causas com as quais ele se preocupava.

Desde sua morte, a fundação funciona não apenas como uma promotora de sua arte, mas também para levantar e doar milhões de dólares para fundos de pesquisas médicas empenhadas em desvendar e combater o vírus HIV e a AIDS, além de determinar em quais galerias seu trabalho será apresentado e o teor da exposição. Fique, agora, com uma sequência de fotos de Robert Mapplethorpe, com a temática do corpo masculino:





















 Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Mapplethorpe

https://educacao.uol.com.br/biografias/klick/0,5387,1626-biografia-9,00.jhtm

 

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

BEIJAR É BOM, MUITO BOM: BEIJE MAIS, BEIJE SEMPRE E SEJA FELIZ

 

(Rodin - the kiss of lovers)



Na poesia, na literatura, na música, na escultura, no cinema, no teatro, nas artes, enfim, o beijo sempre provoca emoções profundas, suspiros, tesão. Na vida real, então, não se pode nunca deixar de beijar, para ser feliz com a pessoa que se ama.




O texto abaixo é exatamente uma exaltação ao beijo, para que nenhum dos leitores dessa LUA QUEBRADA, que defende o erotismo, que defende um bom sexo, deixe de pensar sempre em se deliciar com um bom beijo... antes, durante e depois.



O PODER DO BEIJO

por Fabiana Langaro Loos



Beijar é sempre bom. Levanta o astral. Rejuvenesce. Embriaga. Faz sonhar, faz suar, levando-nos ao delírio. Dá taquicardia. A boca sente os desejos da alma, os mais secretos. Quando dois lábios se unem, a intimidade é revelada. Segredos são compartilhados. É o início de um incêndio que, posteriormente, percorre o corpo todo. Não há nada mais sublime que o beijo.



Beijar é apenas o começo. E também, a despedida. É a cumplicidade de todos os momentos. É a entrega. Entrega plena e mágica, com o poder de acordar a bela adormecida. Com o poder de acalmar os ânimos em uma briga. Sente-se, no ato de beijar, o calor dos lábios, o sabor do outro, o desejo pelo outro.




Se não há vontade de beijar, não há tesão. Se o beijo for ruim, então, pode esquecer, não dá vontade de continuar, não dá vontade de beijar de novo. É engraçado, o beijo é um ato extremamente simples e, ao mesmo tempo, bastante complexo. É como uma assinatura. Beijo bom fica na memória. Beijo muito bom marca a pessoa por uma vida.


E não se engane, beijo ruim também. Portanto, minha amiga, beije, beije muito e vá treinando. Na verdade, não sei se realmente é válido o treinamento, há coisas que já nascem com a gente. Claro que tudo nessa vida dá para ser aprimorado. Portanto, o treino ainda não está descartado.


Beijo envolve contato, olhares, uma relação corpo-a-corpo. Com todo o respeito, mas Bill Gates ainda não inventou beijo “internético”. Ainda bem, pois algumas coisas precisam manter a tradição. Além do mais, já foi comprovado: beijos, abraços e carinhos são ótimas atividades para a saúde do coração. Beijo virtual é só pra ficar na vontade. Beijo de verdade tem que ser macio, molhado, demorado, aí sim, faz aquele estrago.


O beijo tem o poder de seduzir, amolecer as pernas, causando desde arrepios a devaneios psíquicos. Ao beijar, perde-se a noção de tempo, espaço e lugar. O ato de beijar é o causador de distúrbios e alterações comportamentais. Não há nada mais lindo que a união de dois lábios, transportando física e mentalmente duas pessoas em uma só. Mas, cuidado, beijo também vicia. (Ah… bom se todos os vícios do ser humano fossem igual a esse).


No final das contas, não importa se o beijo for fraterno, com más intenções, somente por provocação ou insinuação, por amor, pra toda vida, ou ainda se for só por sacanagem, só por uma noite. Não importa se o beijo for no nariz, na boca, na bochecha, no pescoço, na mão, no tornozelo, na orelha ou em qualquer outro lugar que sua imaginação e criatividade conduzirem. Não importa se for beijo de língua, selinho ou mordidinhas de prazer. O importante é beijar e desfrutar, desfrutar intensamente. Quanto poder tem o beijo. Que delícia é beijar.



Fonte:


segunda-feira, 6 de setembro de 2021

UM CONTO DE LEILAH ASSUNÇÃO

 


Você diria à sua amada ou a qualquer mulher: “Posso chupar sua vulva?” – Bem, ou ela cairia na risada e quebraria todo o clima erótico ou chamaria você de panaca. Embora, seja esse o termo preciso para designar os órgãos sexuais femininos externos, a palavra “vulva” é muito estranha. Por isso, há milhares de termos para designar a “perseguida”. Nem vou relacioná-los aqui e agora, porque tornaria essa postagem um longo e exaustivo dicionário de termos originais, interessantes, estrambóticos, chulos etc. Assim, vou ficar apenas com esta palavra: BOCETA.




Se você foi fã da série SEX AND THE CITY, talvez se lembre do episódio em que a nossa querida e fantástica SÔNIA BRAGA participa e diz a uma das protagonistas, quando de uma cantada lésbica, que há em português uma palavra muito bonita para designar “vagina” (em inglês: va-djai-na) e solta, de forma deliciosa, a palavra BOCETA.




Pois, então: continuando o texto anterior, em que a “pepeca” era a personagem principal, quando prometemos publicar o texto de Leilah Assunção, aqui está ele. Um conto delicioso, para agradar a todos os públicos:



A PALAVRA

Leilah Assunção




“Xotinha é a das outras. Uma fêmea linda e tesuda como você tem é uma bela de uma bo-ce-ta.”

A palavra estalou no quarto. Como gema de ovo. Gelada. Ribombou nas paredes.

Como tambor. E parou. Parou suspensa. Solidificada.

Leda não sabia se afundava pela terra adentro, se ia embora, ou se fingia simplesmente não ter escutado a palavra horrível.

Não, impossível não ter escutado. Lá estava ela, a palavra, paralisada no ar, não só escutada como soletrada, arregalada, descarada, bo-ce-ta. Horrível. De todas, a única que ela jamais conseguiria pronunciar. Medonha. Quando a via escrita nos muros, lá no Interior, mesmo com bu em vez de bo, se avermelhava toda e virava o rosto. Quando começara a dizer alguns nomes feios, com as meninas do internato, esse era, de comum acordo, feio-além-da-conta, esse era “aquele” que não se ousará nunca dizer. Quando, já moça feita e desinibida, nos amores com o noivo pedia-lhe entre suspiros que “a possuísse logo”, sabia muito bem que os “desvarios” tinham limites claros, que a vulgaridade estava obviamente fora dos limites, e que “essa” palavra então, “essa” palavra destruiria tudo. E agora ali estava, na cama com um estranho, o noivado mal rompido, na cama com um estranho que lhe admirava a bo-ce-ta. Ai, não, que horror, não conseguia sequer “pensá-la” inteira. E a palavra ali na sua frente, boiando e planando, paradona, encarada, encarada, ah meu Deus, que lhe dera na cabeça? Como pôde chegar a isso? A menos de três horas atrás estava com o noivo no restaurante, anel no dedo, móveis comprados, casamento marcado, futuro planejado, definido, garantido. Uma briga de nada, começou com qualquer coisa sobre a roupa colorida dela e ela acabou se mandando do restaurante sozinha. Quando ia entrando no seu prédio viu o moço. Deu bola. Ele seguiu, entrou, agarrou e pronto. Ela deixou. Louca. Não, não dava pra não ter deixado, não dava. O noivado rompido, o clima de aventura, a excitação, o inusitado, o desconhecido. Ela deixou e até ousou bastante, pedindo a um estranho: “Põe, põe na minha xotinha, põe.” Pra escutar aquilo. Que xotinha era a das outras. Que a dela, bem, pra escutar aquilo, aquela resposta-palavra despudorada solta no ar encarando ela, como se sentia ridícula. “Põe, põe na minha xotinha.” Uma débil mental miando baixo, uma menina boba esganiçando fino, uma cavalona com a xotinha impúbere. Ficou se imaginando imensa e com a xota de bebê, um tracinho fino e pelado no meio das pernas compridíssimas, das ancas parideiras, do ventre aveludado, dos seios de macieira. Foi aí então que Leda percebeu que a palavra não estava mais no quarto. Foi só então que ela viu que o som, como que por encanto havia desaparecido da frente dela. Aí ela sentiu. Sentiu numa contração quente e funda, quase doída, que a palavra havia caído e se agarrado nos confins das suas entranhas. Se agarrado feito torniquete contorcendo o útero, tinha virado brasa, bo-ce-ta. Cheia e polpuda, ele continuava, crespa, carnuda, e ele foi lá então, carnuda e saborosa, gostosa, gostosa, e se enfiou, bo-ce-ta, a sua bo-ce-ta, boceta de mulher feita de mulher fêmea desabrochada, exuberante, é carne, é suco, é flor, é fruta, é figo, é figo, é boceta, boceta, e com a língua lá dentro ele beijou e lambeu e chupou e se lambuzou, chupa, ela se escutou falando então, chupa, lambe, morde, assim, molha, cospe e beija e saliva molhado, endurece a língua e enfia firme, assim, deixa ela dura como o teu. . . ca-ra-lho. Essa ela já nem se escutou falando mais. Já estava entregue. Ela já não escutava, nem pensava, nem sabia. E nem sentia. Ela “era” todas as emoções e sentimentos, ela era todas as palavras mais sublimes e as mais chãs, ela era todas as poesias e todos os calões mais baixos, amor, amor, ela falava, mesmo sabendo que esse tesão não era amor ela falava amor, não te conheço e te amo, vem amor, me fode com esse teu pau gostoso, não, você não tem pau, você tem ca-ra-lho, pau é o dos outros, você tem ca-ce-te, de homem macho plantado firme, de base sólida se levantando rijo, me dá, me deixa apalpar, assim, me dá, é meu, me deixa passar os lábios e te sentir com a língua, duro, firme, decidido, deixa que a minha boca te engula inteiro, e te sugue e sugue e chupe e nos lambuzemos juntos, vem, investe firme neste meu campo teu, escoiceia e enfia fundo, me entala com o teu talo forte e me estala, me arrebenta, tome posse desse poço, caramba, que foi que eu disse, não sei mais se apenas penso ou digo e faço, eu enlouqueço, e Leda então também beijou e lambeu e chupou e se lambuzou, queria morrer agora e nos cristalizar assim neste prazer tão doido e eternizar este meu gozo novo, este meu gozo único, este meu gozo, ah, caceta, não sei se penso ou falo, fazemos, vem meu tesão louco, desvairado assim, assim, vem, bem fundo, enfia e queima lá no fundo, é de lá que eu... vem amor, ah, me trepa e mete, eu enlouqueço, junto comigo agora, vem meu amor, agora, o gozo nosso, eu vou.... ah, amor, meu amor... meu am... Gritaram juntos. As contrações e o gozo foram completamente inverbalizáveis. A impressão era que depois do gozo eles dois planaram e depois pousaram, relaxando calmos, como se fossem santos. Fecharam os olhos e assim ficaram muito tempo, deitados de mãos dadas, agora sem falar e nem pensar nada. Então ele acariciou os cabelos dela e disse seu nome, Luiz, mas ela pediu silêncio. Então ela mentiu que era casada e que o marido ia chegar. Ele se levantou, mudo, vestiu-se. Rabiscou o telefone num papel, jogou sobre a cadeira e foi-se embora. Ela se espreguiçou, andou um pouco pelo quarto, amassou o papel que estava na cadeira e jogou no lixo, displicentemente. O telefone tocou, era o noivo dela, ela disse que ele tinha um pirulito e ela uma bela de uma boceta, e desligou. Vestiu-se cantarolando, alegre, pela primeira vez na vida sentia-se liberta, segura e solta, dona de si e do mundo. Pegou a bolsa, abriu a porta, chamou o elevador. Saiu pra rua. Nunca tinha visto antes uma noite linda como aquela, o ar tão fino e puro, o céu tão estrelado, nunca se sentira antes tão assim, sem medos, tão assim dona de si, do mundo, e de todos os homens do mundo. Um cara passou e falou que não sabia que boneca andava, ela pensou que cretino e continuou andando. O segundo cara disse que ela era a nora que a mãe dele sonhava, ela pensou que imbecil e continuou andando. Dois, três, cinco quarteirões e finalmente o quarto cara que mexeu com ela fez um barulho molhado com a boca e disse—“ô tesuda, posso dar uma chupada nessa sua boceta gorda?” Ela parou e olhou pra ele. Ficou olhando, e escutando. Ficou esperando. Mas nada. Ela esperando e nada. Nada. Não havia meio, a palavra continuava lá, suspensa e horrorosa. Não havia meio de a palavra cair e se contrair no fim do fundo das suas entranhas e do seu útero. Ficava lá, suspensa e paradona em cima da cabeça dele, sem tesão nem excitação nenhuma, apenas chapada, feia, arregalada e arreganhada. Pornograficada. Ela então voltou pra casa, foi até o lixo, desamassou o papel, foi até o telefone e discou.

“Luiz? Olha, eu não sou casada não e...”’

E foram felizes pra sempre.






(Status Literatura No. 76A.)

ILUSTRADORES: GEORGES PICHARD (Paris, 17 de janeiro de 1920 — 9 de junho de 2003)

  Aprecio muito o trabalho dos ilustradores, geralmente desenhistas exímios, que se dedicam, muitas vezes, a ilustrar a publicação de obras ...