quinta-feira, 21 de abril de 2022

PRENDA SUA CABRITA QUE MEU BODE ESTÁ SOLTO



O machismo estrutural de nossa sociedade ainda pensa e diz coisas desse tipo. Ou seja, o homem pode tudo. A mulher, nada. Principalmente na adolescência, quando é muito fácil colar nas meninas menos convencionais rótulos inconvenientes e injustos. Poderia ficar aqui a destilar inúmeros argumentos e histórias sobre esse assunto, mas dou a palavra Jaque Barbosa. Este texto é de 2011, do blog indicado abaixo (muita água já rolou de lá até hoje, mas certas mentalidades não mudam, por isso a atualidade do texto). Divirtam-se e, principalmente, tirem suas lições (homens e mulheres que tenham a responsabilidade de educar e formar outros homens e mulheres):


MÃE, NÃO QUERO SER PUTA

por Jaque Barbosa

(Foto de Raquel Barrajón - autorretratos al estilo Diane Arbus)

Minhas primeiras lembranças sobre o rótulo de puta remetem ainda aos anos de escola, época em que minhas preocupações mais latentes giravam em torno de dilemas complexos do tipo “com-quem-vou-sentar-junto-no-ônibus-da-excursão?” Eu nem pensava em beijar meninos – fato que ocorreu uns bons cinco anos depois –, mas os assuntos nas rodinhas entre uma explicação de matemática e a conjugação do eterno verbo to be já apontavam para ela, a galinha da sala.



Sem peito, já puta.

Lembro-me que não entendia muito bem qual a relação entre uma galinha e o fato de uma menina ter beijado alguns meninos na boca, mas logo fui apresentada à definição que não consta no Aurélio:

Galinha s.f.

Menina amiga de muitos meninos que comete o ultraje de ficar com dois garotos do mesmo grupinho e que, segundo as más línguas, permite a um ou mais deles passar a mão nas proximidades dos seus peitinhos que começam a brotar tais quais pequenas laranjinhas.


Seu nome era Gabriela. Eu gostava dela. Não me interessava muito o que ela fazia fora dali – mas o rótulo de “galinha” assumiu sua antiga identidade. Antes que eu me desse conta, me peguei também olhando-a e imaginando como conseguia ser tão lasciva. Por causa de sua nova identidade, Gabriela foi excluída das rodas das meninas e os meninos cada vez se aproximavam, sempre com as mesmas brincadeiras cheias de duplo sentido. A partir daí, concluí que não queria ser uma puta.



O fantasma da puta me assombrou durante toda a adolescência. O mesmo acontecia com minhas amigas. Ninguém queria ser vista como fácil e a regra era: mesmo se estiver com vontade, cruze as pernas. Ficar com dois meninos da sala, jamais! Da escola, só se ninguém mais soubesse. As mãos mal-intencionadas dos meninos com hormônios explodindo tinham que ficar longe das nossas bundas e de nossos projetos de peito. Eram as regras básicas.


Fui crescendo e, apesar das regras terem evoluído, ainda via o fantasma da puta assombrando minha vida e a vida das mulheres ao meu redor. Agora o papo era outro e envolvia questões do tipo: “se estiver com vontade de dar no primeiro encontro, vá embora e bata uma sozinha em casa”, “se gostou muito, não ligue”, “não fique com mais de um cara no trabalho”, “sexo anal desmoraliza a mulher”, “ser safada na cama assusta os homens”. Se ele sumia do mapa, sempre tinha a amiga pra dizer:

— Não disse? Você foi fácil demais.



Quem ditava as regras eu não sei dizer, mas elas existiam como parte de um manual invisível para não se tornar “malfalada”.

Quando comecei a questionar o que queria da vida, me toquei que as regras do tal manual invisível não passavam de balela. Mas constatei que ele fez parte da minha adolescência e ditou, de certa forma, minha forma de me relacionar com os homens.

Pernas sempre cruzadas para não ser confundida com uma vadia.



Um puta peso de puta

Conversando sobre esse assunto com uma amiga, escutei-a confessar, cheia de remorso, sobre o dia em que, durante uma festa, deu para um cara de quem nem sabia o nome. Foi, usando suas próprias palavras, a melhor foda de sua vida. Mas depois ficou sabendo que o cara espalhou para os amigos que tinha transado com ela na lavanderia da casa. Eis que o fantasma da puta novamente entrou em cena: escutei-a dizer – podendo jurar que via um princípio de lágrima querendo brotar nos seus olhos – que se arrependeu horrores de ter sido tão puta naquele dia, que não queria se sentir assim nunca mais na vida.



Fiquei me perguntando qual a fonte do arrependimento dela – porque se o sexo tinha sido bom e se ela tinha sentido prazer, o sofrimento pós-foda não poderia ter vindo de motivações pessoais. E aí entendi o peso que o rótulo da puta exerceu sobre a vida de nós todas, reprimindo vontades e não nos permitindo ser quem realmente éramos.


Hoje, posso dizer que esse fantasma não me assombra mais. Basta refletir um pouco para perceber que não há nada negativo em gostar de sexo, querer ter experiências com várias pessoas e se permitir transar da forma que o corpo pede. Hoje, sinto pena pelos desejos reprimidos e por todos os gozos que ainda virão a ser censurados. Deixar que a puta que existe dentro de nós assuma o controle de vez em quando é necessário – e delicioso. Como sabiamente já dizia Caio Fernando Abreu, “um dia de monja, um dia de puta”.



Fonte:


terça-feira, 12 de abril de 2022

HOMOSSEXUALIDADE: ENTENDER, DESMISTIFICAR, ACEITAR – O QUE AS LÉSBICAS NÃO AGUENTAM MAIS OUVIR





A homossexualidade feminina sempre esteve presente na sociedade humana, assim como a homossexualidade masculina. As mulheres, no entanto, sofreram ou sofrem menos preconceitos do que os homens, quando se declaram lésbicas? Essa é uma pergunta difícil de responder, porque a sociedade homofóbica assesta seus preconceitos contra tudo o que é diferente, em termos de sexo.


No entanto, por terem sido mais discretas que os homens, as homossexuais femininas não “causam” tanto, porque nos acostumamos a fechar os olhos para detalhes, como duas mulheres andarem de mãos dadas na rua, trocarem carícias públicas (dentro de certos limites, claro!!!), viverem juntas numa mesma casa etc. etc. etc.


Nos tempos atuais, os armários têm sido abertos e neles encontramos muitas surpresas. Surpresas que, muitas vezes, não agradam nem um pouco aos conservadores de plantão, dispostos a atirar pedras e não apenas a primeira. Por isso, o texto abaixo deve soar como um alerta para essas pessoas – a de que é necessário respeitar as pessoas, independentemente de sua sexualidade ou de suas sexualidades – e como uma abertura das mentes contra o preconceito:


O QUE AS LÉSBICAS NÃO AGUENTAM MAIS OUVIR, E PORQUE ELAS SE OFENDEM

MARCELA DONINI


Lésbicas vão ao supermercado. Limpam cocô de gato. Sofrem por não conseguir ler todos os livros que acumulam. Lançam livros.


- Não somos sexualidades recortadas. Somos pessoas completas, complexas e comuns - diz a escritora Natalia Borges Polesso, vencedora do Jabuti na categoria Contos em 2016.


A autora decidiu compartilhar cenas cotidianas no Instagram com a tag #visibilidadelésbica. A ideia é tirar de foco a questão da sexualidade quando se fala em lesbiandade. Seu desejo, e de outras mulheres lésbicas, é ser vista como uma pessoa comum, mas, também, como uma mulher que se relaciona com outras mulheres e não quer mais ser questionada sobre "quem é o homem da relação".


Feitos por homens e mulheres heterossexuais, comentários como esse escancaram preconceito e ignorância. A educadora social Daiana Santos, ativista dos movimentos negro, LGBT+ e feminista e moradora da periferia de Porto Alegre, atribui esses discursos à falta de educação sexual.


- Não debatemos esses temas, logo, tudo é tabu, nada pode. Assim se colocam marcadores para delimitar quem é quem. Se além de lésbica, a mulher é negra, mais masculinizada e mora na periferia, o preconceito é ainda maior - afirma.


Donna conversou com mulheres lésbicas para saber que frases e perguntas elas estão cansadas de ouvir e por que elas se ofendem. Confira a seguir.


"Só não pode querer virar homem."

É bastante comum confundir sexualidade com identidade de gênero. Lésbica é a mulher que tem relações afetivo-sexuais com outras mulheres. Tem a ver com orientação sexual, e não com gênero, explica Carol Bastos, articuladora da Liga Brasileira de Lésbicas no Rio Grande do Sul (LBL-RS).


Para a produtora cultural Ariane Laubin, esse tipo de comentário parte de quem não aceita pessoas do gênero feminino que não atendem a padrões de moda e beleza esperados de uma mulher pelo senso comum.


- Não queremos ser ou parecer homens. Queremos ser nós mesmas - diz ela, que também é voluntária na ONG Somos - Comunicação, Saúde e Sexualidade.



"É falta de homem!"

Ou variações como "Isso é porque você não encontrou o homem certo, que te pegue de jeito". A escritora Natalia Borges Polesso propõe uma comparação:


- Eu poderia dizer a mesma coisa para um homem heterossexual. Como ele pode saber que é hétero se nunca se relacionou com outro homem? Ele vai achar bizarro, assim como nós achamos quando alguém nos diz isso.


Relações entre mulheres não são o resultado das relações com homens, ressalta Carol. Até porque nem toda mulher lésbica teve relacionamentos heterossexuais.


Ariane chama a atenção para outra questão: fica parecendo que mulheres homossexuais precisam ser "curadas". Aliás, essa crença está por trás do estupro corretivo de lésbicas, prática criminosa definida como uma tentativa de "corrigir" uma característica da vítima, no caso, sua orientação sexual.



"Quem é o homem da relação?"

O óbvio, às vezes, precisa ser dito. Então, diga lá, Carol Bastos:

- Não há homem na relação lésbica, a relação é entre mulheres.


Esse tipo de pergunta expressa o quanto nossa sociedade é heteronormativa, ou seja, entendemos que todo relacionamento afetivo é formado por um homem e uma mulher. Além disso, é uma frase machista porque pressupõe que, em uma relação, há papéis desempenhados só pelos homens.


Daiana Santos, também integrante da LBL-RS, questiona por que precisaria haver sempre um homem ou uma figura masculina em um relacionamento. Um casal de mulheres é um outro tipo de construção, diz, diferente daquela imposta culturalmente, mas que, para a surpresa de alguns, tem a mesma base que qualquer relação afetuosa deveria ter:

- Para além da sexualidade, estamos falando de amor, carinho e respeito - diz.



"Você não pode ser mãe."

Quando se casou com Ariane Laubin, Bianca Garbelini já era mãe de Sofia, hoje com 12 anos. Em lugares públicos, frequentemente o casal percebe olhares tortos e é abordado com perguntas que pressupõem que a menina foi adotada.


- Isso está longe de ser um problema pela adoção em si, que é maternidade tanto quanto a biológica, mas por outro tipo de preconceito: esse de que a mulher lésbica não pode engravidar - explica Bia.


Sofia foi fruto de um relacionamento heterossexual durante a juventude de Bia. Mas não custa lembrar que mulheres lésbicas que queiram engravidar podem optar por reprodução assistida.


Antes de conhecer Ariane, que hoje compartilha a maternidade de Sofia, Bia era questionada por estranhos sobre "o seu mar

- Ter uma filha é andar com um atestado de heterossexualidade pendurado em ti (risos) - brinca a bancária, para logo voltar a falar sério: - Isso dói na medida em que a nossa sexualidade é uma parte importante de quem a gente é, e isso ser invisível é triste.



“Nem parece lésbica.”

Esse tipo de comentário é feito a lésbicas que atendem a padrões de beleza e estilo esperados pelo senso comum, consideradas "mais femininas". Produtora de conteúdo do canal de YouTube Carolez TV, no qual fala sobre diversidade e autoestima, Carol Delgado está acostumada a ouvir esse tipo de frase e ser assediada por homens.


Essa ideia de "cara de lésbica" ou "jeito de lésbica" cria mais um conflito na hora de algumas mulheres se assumirem homossexuais porque, segundo Carol, elas não se identificam com o estereótipo de mulher masculinizada. Às vezes, o preconceito parte de outras lésbicas, conta. - Dificulta até conseguir namorada - desabafa.


O comentário é mais uma confusão entre identidade de gênero e sexualidade, já que tem gente ainda presa a crenças limitantes como homens vestem azul e gostam de mulheres, e mulheres vestem rosa e gostam de homens. Para essas pessoas, se uma mulher gosta de mulheres, ela necessariamente tem que ter um estilo masculino.


- Esses constructos de mulher são muito pobres. As pessoas podiam aprender com gays e lésbicas a serem mais livres - observa Natalia.



"Também quero participar."


Dita por homens, essa frase, além de machista, ilustra a hiperssexualização da mulher lésbica. Na França, a Google chegou a mudar seu algoritmo para que o termo lesbienne (lésbica em francês) deixasse de sugerir apenas resultados pornográficos.


Afinal, como diz Natalia Borges Polesso, elas são muito mais do que corpos sexualizados.


Quando ouve uma frase como essa, a escritora tem uma resposta na ponta da língua: - Ninguém te convidou. Os corpos das mulheres não estão à disposição dos homens.


Se até a gigante da tecnologia reviu seu algoritmo, você também pode rever seus pré-conceitos.

Fonte:


sexta-feira, 1 de abril de 2022

HOMOSSEXUALIDADE: ENTENDER, DESMISTIFICAR, ACEITAR - ALGUMAS VERDADES SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE

(Luiz Mott)

Luiz Roberto de Barros Mott (São Paulo, 6 de maio de 1946), ou simplesmente Luiz Mott, é um antropólogo, historiador e pesquisador, e um dos mais conhecidos ativistas brasileiros em favor dos direitos civis LGBT. Luiz Mott é uma das figuras mais conhecidas do movimento LGBT e foi considerado um dos gays mais poderosos do mundo em uma lista feita pela revista americana Wink.

(Detail of a Fresco from the North wall of the Tomb of the Diver in Paestum, Italy)

Estudou em Seminário Dominicano de Juiz de Fora. Formou-se em Ciências Sociais pela USP. Possui mestrado em Etnologia em Sorbonne e doutorado em Antropologia, pela Unicamp. Professor titular aposentado do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, UFBA, e orientador do programa de pós-graduação em História da Universidade Federal da Bahia, UFBA. Fundador do Grupo Gay da Bahia, uma das principais instituições que laboram em prol dos direitos humanos dos LGBTs no Brasil, é dele o artigo abaixo, cuja finalidade é colocar algumas verdades sobre a realidade do unviverso gay:

O QUE É A HOMOSSEXUALIDADE

Texto original de Luiz Mott



Para começo de conversa, vamos dar nomes aos bois, ou melhor, aos "veados". Aliás, esta é uma primeira questão: por que apelidaram os homossexuais de veados? É só no Brasil que existe esta associação entre o animal veado e o homossexual: na Europa o veado representa a masculinidade e é até símbolo nacional de alguns países. Será que relacionaram o gay ao veado porque se trata de um bichinho elegante, fino, "fresco", de andar delicado igual o Bamby dos filmes de Walt Disney? Ou porque na natureza os veados machos andam sempre juntos e transam entre si?


Em Pernambuco chamam os gays de frango, no Rio de Janeiro de boiola, no Maranhão de qualira, no Ceará de baitola, na Bahia de chibungo, nas academias de musculação os "muleques" chamam de tia, etc, etc. Tem mais de 60 nomes diferentes usados pelo povão para descrever nossa categoria, quase todos usados mais como insulto do que nome próprio. A palavra HOMOSSEXUAL é a mais antiga de todas e significa "sexo igual", sendo portanto aplicável tanto para o homem que transa com homem (gay) como para a mulher que transa com outra mulher (lésbica). É uma palavra universal, criada em l869 pelo jornalista gay-húngaro Benkert. Portanto, homossexual é quem ama e sente atração pelo mesmo sexo.


HETEROSSEXUAL é o contrário: quem gosta do sexo oposto, e BISSEXUAL é o que transa com os dois sexos. Existem portanto três formas predominantes de orientação sexual: a mais praticada que é a HETEROSSEXUALIDADE, seguida da BISSEXUALIDADE e da HOMOSSEXUALIDADE. A palavra GAY também é sinônimo de homossexual: é um termo que já existia no português antigo com o mesmo significado atual: gay significa "alegre" - (de gaiato) - muito embora nem sempre a gente tenha motivo para ser chamado de "rapaz alegre", tantas são as amarguras que temos de enfrentar nesta sociedade heterossexista.


Todos nós nascemos machos ou fêmeas. É a sociedade que vai nos definir como homens ou mulheres. As Ciências Naturais e Sociais garantem que o fato de nascer macho não leva obrigatoriamente o homem a ter atração física pelo sexo oposto. No reino animal, sim, o instinto determina a atração sexual do macho pela fêmea quando ela está no cio. Entre os humanos, cada povo é que vai determinar como vai ser a vida sexual de seus membros, se pode ter uma ou várias mulheres, se os jovens vão poder ou não transar antes do casamento, se a homossexualidade será aceita ou condenada, se vão castrar alguns rapazes para serem eunucos, etc


Pesquisas científicas revelam que 64% das sociedades humanas aceitam o homossexualismo e 36% condenam o amor homossexual. Infelizmente fazemos parte desta minoria de sociedades onde os direitos humanos dos gays e lésbicas não são respeitados. Mas há exemplos de outros povos, como a Grécia antiga ou a Suécia, Dinamarca e outros países civilizados, onde os homossexuais são respeitados e protegidos pelas Leis.


Estas informações têm como objetivo exatamente demonstrar que o preconceito contra os gays e lésbicas se baseia na ignorância, que discriminar os homossexuais é tão cruel e desumano como o racismo, e que se o Brasil quiser se tornar um país civilizado, tem de imitar não o Irã ou Iraque, onde a lei manda apedrejar os homossexuais e as mulheres adúlteras, mas deve tomar como modelo os países mais civilizados da Europa onde gays e lésbicas são tratados com os mesmos direitos de cidadania das demais pessoas.



Estas páginas são dedicadas sobretudo aos gays, lésbicas, travestis e transexuais. Mas qualquer pessoa, seja heterossexual ou bissexual, também tem aqui muito a aprender. Estas informações podem ajudar você e outras pessoas a construir um mundo melhor, com menos violência e ignorância, onde, como dizia o poeta bissexual Fernando Pessoa, "o amor que é essencial, o sexo um acidente: pode ser igual, ou pode ser diferente!"


Vamos começar o ABC dos Gays enumerando "10 verdades sobre a homossexualidade", dando os argumentos para você entender melhor sua própria homossexualidade e ter argumentos para rebater os ataques, indiretas e agressões dos ignorantes. Todas as informações aqui divulgadas se baseiam em livros científicos, em pesquisas sérias que podem ser comprovadas por especialistas.


1. SER HOMOSSEXUAL NÃO É CRIME


Esta é a primeira informação que todo mundo deve saber. Não existe no Brasil nenhuma lei que condene os gays, lésbicas, travestis e transexuais. Ninguém pode ser preso por ser homossexual. Nem o Código Penal nem a Constituição Federal condenam a homossexualidade e nem a sua prática entre pessoas maiores e com consentimento mutuo . O preconceito e a discriminação, sim, são proibidos pelas leis brasileiras. Se algum policial, autoridade ou qualquer pessoa insultar, agredir, prender ou discriminar você ou seu vizinho, por ser gay, lésbica, transexual ou travesti, você tem de reagir e denunciar na Delegacia de Polícia mais próxima ou nas Comissões de Direitos Humanos, nos jornais ou junto ao grupo homossexual de sua cidade ou Estado. E lembre-se: quem cala, consente. O grito é uma das armas dos oprimidos. Não consinta com discriminação alguma! É legal ser homossexual!!!

2. HOMOSSEXUALISMO NÃO É DOENÇA


Muita gente ignorante afirma que todo homossexual é um doente físico ou mental. A Ciência diz o contrário: é normal ser homossexual. O próprio Freud, o Pai da Psicanálise declarou: "A homossexualidade não é nada que alguém deve envergonhar-se. Não é vício nem degradação. Não pode ser considerada doença!" O Conselho Federal de Medicina desde l985 retirou a homossexualidade da lista dos desvios sexuais. Tanto as Ciências Naturais como as Psico-Sociais confirmam: nada distingue um gay ou lésbica dos demais cidadãos, a não ser que os homossexuais amam o mesmo sexo, enquanto os heterossexuais preferem o sexo oposto, e os bissexuais curtem os dois sexos. Ser gay é saudável!


Ninguém pode ser obrigado a submeter-se a exames médicos ou tratamentos psicológicos visando mudar sua "orientação sexual". Castigar crianças ou adolescentes por manifestarem tendências homoeróticas é crueldade e fere o Estatuto da Criança e do Adolescente e um direito fundamental de todo ser humano: a livre orientação sexual. Como a homossexualidade não é crime nem doença, impedir alguém de realizar sua verdadeira orientação sexual é tirania, crueldade, abuso do poder e desrespeito aos direitos humanos. Nunca pratique nem se submeta a esta discriminação. A Ciência e as Leis estão do lado dos homossexuais!

3. HOMOSSEXUALIDADE NÃO É PECADO


Apesar de muitos pastores e padres condenarem o amor entre pessoas do mesmo sexo, Jesus Cristo, nunca falou sequer uma palavra contra os homossexuais. Quando algum crente disser que ser homossexual é pecado, desafie-o a mostrar no Evangelho qualquer condenação do Filho de Deus aos homossexuais. Jesus condenou, sim, os hipócritas, os ladrões, os mentirosos e intolerantes. Cada vez mais, importantes teólogos e estudiosos da Bíblia confirmam que também os homossexuais foram criados por Deus, pois nasceram assim do ventre materno (Mateus, l9-l2). E que todas aquelas passagens bíblicas que são citadas contra os homossexuais, ou foram mal traduzidas ou mal interpretadas. Muitas religiões, desde o tempo dos Gregos até os Orixás, respeitam os homossexuais, abençoam suas uniões e têm até divindades que praticam esta forma de amor. Se a tua religião discrimina os gays, caso você não consiga convencer seus líderes a respeitar os homossexuais como filhos de Deus, abandone e denuncie essa igreja, pois ela desobedece nossa Constituição e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A verdade está do lado dos gays e lésbicas: é a História que garante. "E conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará!"

4. A HOMOSSEXUALIDADE SEMPRE EXISTIU


Antes mesmo de ter sido escrita a primeira linha da Bíblia, já existiam documentos, no antigo Egito, com mais de dois mil anos antes de Cristo, que descrevem relações sexuais entre dois deuses e dois homens. O poeta Goethe dizia que o homossexualismo é tão antigo quanto a própria humanidade e na própria Bíblia há exemplos de casos homossexuais, como a paixão do Santo Rei Davi por Jônatas.


Homossexualidade não é sinal de decadência, nem leva os povos à ruína. Prova disto é a Grécia Clássica, que teve seu momento de maior glória e grandeza exatamente quando a homossexualidade era muito praticada e respeitada. Não há fogueira da Inquisição, nem pedrada do Levítico, nem Aids que consiga acabar com o amor entre pessoas do mesmo sexo. O amor unissexual sempre existiu e nunca vai acabar. O futuro é nosso!

5. TODOS OS POVOS PRATICAM A HOMOSSEXUALIDADE


Não foram os brancos que inventaram esta forma de amor. Quando os europeus chagaram no Novo Mundo encontraram aqui diversas tribos indígenas onde os gays eram muito numerosos e respeitados. Nossos índios chamavam os gays de tibira e às lésbicas de sacoaimbeguira. Em Angola os homossexuais eram chamados de quimbanda e na língua yorubá de adé. Na linguagem do candomblé os homossexuais são chamados monas ou adofiró. A maioria das sociedades humanas do passado e do presente respeitam os homossexuais.


Segundo pesquisas antropológicas, 64% dos povos são favoráveis a homossexualidade e 36% são hostis. Infelizmente fazemos parte desta minoria de povos que discriminam os homossexuais. Os cientistas deram um nome a esta aversão homossexual: HOMOFOBIA.


Homofobia é ódio ou intolerância à homossexualidade. É uma doença anti-social como o machismo e o racismo. Homofobia é doença que se cura com a informação e punição daqueles que desrespeitam os direitos humanos dos homossexuais.

6. A HOMOSSEXUALIDADE É NATURAL


Mesmo considerando a sexualidade humana como uma "construção social", já que durante muitos séculos chamaram erroneamente a homossexualidade de "pecado contra a natureza", consideramos politicamente correto afirmar que ela também é natural pois existe na natureza. Os animais também praticam o homossexualismo. Segundo a Zoologia, desde os percevejos, até as baleias, passando pelos veados e rolinhas, em todo o reino animal, existem relações sexuais de macho com macho e de fêmea com fêmea. Portando, dizer que o homossexualismo é anti-natural ou vai contra a natureza, é ignorância. Dizer também que os homossexuais ameaçam a sobrevivência da espécie humana é burrice, pois há evidências históricas e antropológicas comprovando que mesmo naquelas sociedades ultra favoráveis às práticas homossexuais, nem por isto tais povos sumiram do mapa: exemplo, os Etoros, nativos da Nova-Guiné, povo onde todos os adolescentes são obrigados a praticar o homoerotismo e nem por isto a reprodução da espécie ficou ameaçada.


Mesmo liberando-se o homossexualismo, sempre haverá um número superior de pessoas que vão preferir o sexo oposto. O Relatório Kinsey descobriu que mais da metade dos homens já tiveram ao menos um orgasmo com parceiros do mesmo sexo, embora os homens predominantemente homossexuais representem por volta de 10% da população do Ocidente. Portanto, no Brasil, deve existir mais de 15 milhões de homossexuais, população uma vez e meia superior aos habitantes dos 7 estados da região Norte do país.

7. A CAUSA DA HOMOSSEXUALIDADE É UM MISTÉRIO


Até hoje, por mais que se pesquise, ainda não chegaram os cientistas a uma conclusão definitiva para explicar a origem da homossexualismo. As teorias que tentaram explicar as causas da tendência homossexual por razões biológicas, genéticas, glandulares, psicológicas, sociais, todas são insuficientes e muitas vezes, umas contradizem as outras. De certo só se sabe uma verdade: que o homossexual é tão normal como os demais cidadãos. Nada distingue o gay e a lésbica dos demais homens e mulheres, a não ser que os homossexuais gostam do mesmo sexo, e os heterossexuais não. E gosto não se discute! Mais importante do que procurar as causas do homossexualismo, é buscar as causas da "homofobia" e lutar contra o preconceito e a discriminação anti-homossexual. As causas da homossexualidade são as mesmas da heterossexualidade, já que entre os humanos não é o instinto que determina a atração sexual, mas a preferência individual: tudo depende de gosto pessoal, de maior identificação com o objeto amado. Se todos gostassem só do azul, o que seria da cor de rosa? No mundo há lugar para todas as cores, por isto é que o arco-íris tornou-se o simbolo internacional do movimento homossexual. Viva a diferença!

8. GAY, TRAVESTI E, TRANSEXUAIS E BOFE


Do mesmo modo como acontece entre os "heteros", que inclui tanto o machão como homens delicados, também entre os "homos" há grande diversidade de comportamentos, estilos de vida e estereótipos. Ser gay não é sinônimo de efeminação, e nem toda lésbica é mulher-macho. Como você sabe, entre os homossexuais existe grande diversidade : gays, travestis, transexuais e bofes. Os gays, popularmente chamados de bichas ou entendidos, incluem os "enrustidos" (infelizmente a maioria), as "bichas fechativas" e os "assumidos". Entre os assumidos, os "gays ativistas" ou "militantes" : são aqueles que se organizaram em grupos para defender nossos direitos de cidadania. As travestis se vestem de mulher, algumas usam silicone ou hormônio para feminilizar seu corpo, infelizmente uma grande parte vive da prestação de serviços sexuais, algumas porque gostam e outras por não conseguir um trabalho socialmente aceito. As transexuais se consideram completamente pertencentes ao sexo oposto ao que nasceram, chegando alguns a realizar a operação para mudança de sexo. Necessariamente a transexualidade não está ligada à cirurgia de mudança de sexo. O que importa mesmo é o sexo psicológico, como a pessoa se identifica, sente, ama e vive. Estas duas categorias sociais, estão mais relacionadas com o universo heterossexual, que com a própria homossexualidade, porque o homem gay não se transforma e nem sente interesse sexual, por travestis e transexuais, ele gosta de outro igual a si.


Travestis e transexuais, na sua grande maioria se interessam sexualmente por homens não gays. Existe uma tênue diferença entre travestis e transexuais. Os bofes são rapazes que transam com os homossexuais mas que não assumem a identidade homossexual: os rapazes de programa transam de vez em quanto com homossexuais enquanto os michês são profissionais do sexo. Entre as lésbicas há as sandalinhas, ladys, sapatas, entendidas e sapatões. Um lembrete importante: a aparência externa não traduz necessariamente as fantasias e práticas individuais, pois há efeminados que não são gays e machões que na cama viram "bofonecas". Há muitos estilos de vida, várias formas de viver suas preferências sexuais. Todos têm direito de viver como querem, desde que respeitando o mesmo direito dos outros.


Temos de aprender a conviver com a diversidade, aceitar o pluralismo, respeitar o diferente. Cada qual se assume quando e o quanto quiser. Em questão de sexualidade não há receita única nem certo ou errado. O único limite à nossa liberdade sexual é a liberdade alheia. Cada qual na sua e todo mundo numa boa.

9. HOMOSSEXUALIDADE NÃO É SINÔNIMO DE CÓPULA ANAL


Muita gente tem medo de experimentar uma relação com o mesmo sexo porque imagina que sempre tem de ter um que come o outro, ou uma que domina a outra. Ledo engano. Tem muito gay que não gosta de dar nem de comer, mantendo relação frente a frente com o parceiro, sem essa de ativo e passivo, macho e fêmea. O sexo não tem sexo! O ser humano não é regido pelo instinto, e sexo também é cultura, invenção, imaginação. É importante lembrar que o sexo não se destina apenas à reprodução, mas ao prazer, à união, amor e amizade entre os amantes, seja de que sexo forem. Se para a reprodução é necessária a penetração, para o amor não. E com o aparecimento da Aids, é preciso estar bem informado sobre algumas verdades relacionadas ao homoerotismo: primeiro, que a Aids não é uma doença de gays, pois surgiu entre os heterossexuais e pode pegar em qualquer pessoa. Segundo, a Aids só se transmite através do sangue, esperma e secreções vaginais, de modo que em qualquer relação sexual deve-se evitar que tais líquidos, o esperma, o sangue e as secreções vaginais, entrem no seu corpo ou no corpo do parceiro. Penetração, só com camisinha! Pode-se praticar o "sexo mais seguro" evitando a troca destes líquidos.


Beijo, abraço, carícias, masturbação individual ou recíproca, tudo isto dá prazer, leva ao orgasmo, sem oferecer risco de contaminação pelo HIV, o vírus da Aids. Use sua imaginação! Não tenha medo do homossexualismo nem dos outros gays por causa da Aids: qualquer sexo sem risco, seja com o mesmo, seja com o sexo oposto, não oferece perigo de contaminação. O que mata é a ignorância, o preconceito e transar sem camisinha.

10. HOMOSSEXUAIS CÉLEBRES


Os donos do poder sempre procuraram destruir a história dos oprimidos como uma forma de impedir que imitassem seus heróis, tivessem orgulho de sua condição e reivindicassem igualdade de direitos. Os negros têm seus ídolos, as mulheres seus modelos. Também nós, gays e lésbicas, temos muitos iguais a nós de quem nos orgulhar. Uma das provas mais evidentes de que a homossexualidade não é doença ou algo desprezível, é a quantidade de celebridades na história humana que foram praticantes do "amor que não ousava dizer o nome". Mesmo vivendo em épocas em que o homossexualismo era castigado como crime, ninguém conseguiu destruir a paixão de ilustres homoeróticos. Eis uma lista de apenas 10 celebridades que amaram o mesmo sexo: Sócrates, Alexandre Magno, Leonardo Da Vinci, Miguelângelo, Shakespeare, Fernando Pessoa, Santos Dumont, Oscar Wilde, Pasolini, Renato Russo. Agora dez mulheres que amaram outras mulheres : Safo, Catarina da Rússia, Cristina da Suécia, Imperatriz Leopoldina, Eleonor Roosevelt, Marguerite Yourcenar, George Sand, Marlene Dietrich, Martina Navratilova, Ângela Rorô. E muitos mais que você sabe... Quantos artistas, cantores e cantoras, políticos, esportistas famosos, nossos contemporâneos, são reconhecidos como homossexuais? Que o exemplo destes gays e lésbicas célebres sirva de lição: é possível ser homossexual e tornar-se alguém respeitado, digno de admiração. Basta saber se conduzir com dignidade, desmascarar o preconceito, exigir respeito!




Fonte:



ILUSTRADORES: GEORGES PICHARD (Paris, 17 de janeiro de 1920 — 9 de junho de 2003)

  Aprecio muito o trabalho dos ilustradores, geralmente desenhistas exímios, que se dedicam, muitas vezes, a ilustrar a publicação de obras ...