sexta-feira, 17 de setembro de 2021

ROBERT MAPPLETHORPE: A FORÇA DO NU MASCULINO

 



Uma postagem especial em homenagem a um grande artista – Robert Mapplethorpe, para o prazer de quem aprecia um corpo masculino bem fotografado. Sua obra é bastante vasta e seus interesses fotográficos iam de fotos de nudez, sadomasoquismo a flores. No entanto, vou privilegiar neste post suas fotos de nus masculinos.

Uma breve biografia: Robert Mapplethorpe nasceu em 4 de novembro de 1946, em Floral Park, estado de Nova York. Ingressou no Pratt Institute, no Brooklyn, para estudar Artes Gráficas, mas largou a faculdade em 1969, antes de se formar. Robert passou a morar com uma amiga de longa data, Patti Smith, de 1967 a 1972, que apoiava sua arte e com quem manteve uma longa amizade.


Tornou-se famoso por suas fotografias de nus masculinos, cheias de erotismo, depuradas por meio de uma técnica de preto-e-branco sutil e purista, que se tornou sua marca pessoal. Faleceu em março de 1989, aos 42 anos, devido a complicações decorrentes do vírus da AIDS. Cerca de um ano antes de sua morte, já doente, Robert criou a Fundação Robert Mapplethorpe Inc., com o objetivo de propagar seu trabalho, sua visão criativa e promover causas com as quais ele se preocupava.

Desde sua morte, a fundação funciona não apenas como uma promotora de sua arte, mas também para levantar e doar milhões de dólares para fundos de pesquisas médicas empenhadas em desvendar e combater o vírus HIV e a AIDS, além de determinar em quais galerias seu trabalho será apresentado e o teor da exposição. Fique, agora, com uma sequência de fotos de Robert Mapplethorpe, com a temática do corpo masculino:





















 Fontes:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Mapplethorpe

https://educacao.uol.com.br/biografias/klick/0,5387,1626-biografia-9,00.jhtm

 

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

BEIJAR É BOM, MUITO BOM: BEIJE MAIS, BEIJE SEMPRE E SEJA FELIZ

 

(Rodin - the kiss of lovers)



Na poesia, na literatura, na música, na escultura, no cinema, no teatro, nas artes, enfim, o beijo sempre provoca emoções profundas, suspiros, tesão. Na vida real, então, não se pode nunca deixar de beijar, para ser feliz com a pessoa que se ama.




O texto abaixo é exatamente uma exaltação ao beijo, para que nenhum dos leitores dessa LUA QUEBRADA, que defende o erotismo, que defende um bom sexo, deixe de pensar sempre em se deliciar com um bom beijo... antes, durante e depois.



O PODER DO BEIJO

por Fabiana Langaro Loos



Beijar é sempre bom. Levanta o astral. Rejuvenesce. Embriaga. Faz sonhar, faz suar, levando-nos ao delírio. Dá taquicardia. A boca sente os desejos da alma, os mais secretos. Quando dois lábios se unem, a intimidade é revelada. Segredos são compartilhados. É o início de um incêndio que, posteriormente, percorre o corpo todo. Não há nada mais sublime que o beijo.



Beijar é apenas o começo. E também, a despedida. É a cumplicidade de todos os momentos. É a entrega. Entrega plena e mágica, com o poder de acordar a bela adormecida. Com o poder de acalmar os ânimos em uma briga. Sente-se, no ato de beijar, o calor dos lábios, o sabor do outro, o desejo pelo outro.




Se não há vontade de beijar, não há tesão. Se o beijo for ruim, então, pode esquecer, não dá vontade de continuar, não dá vontade de beijar de novo. É engraçado, o beijo é um ato extremamente simples e, ao mesmo tempo, bastante complexo. É como uma assinatura. Beijo bom fica na memória. Beijo muito bom marca a pessoa por uma vida.


E não se engane, beijo ruim também. Portanto, minha amiga, beije, beije muito e vá treinando. Na verdade, não sei se realmente é válido o treinamento, há coisas que já nascem com a gente. Claro que tudo nessa vida dá para ser aprimorado. Portanto, o treino ainda não está descartado.


Beijo envolve contato, olhares, uma relação corpo-a-corpo. Com todo o respeito, mas Bill Gates ainda não inventou beijo “internético”. Ainda bem, pois algumas coisas precisam manter a tradição. Além do mais, já foi comprovado: beijos, abraços e carinhos são ótimas atividades para a saúde do coração. Beijo virtual é só pra ficar na vontade. Beijo de verdade tem que ser macio, molhado, demorado, aí sim, faz aquele estrago.


O beijo tem o poder de seduzir, amolecer as pernas, causando desde arrepios a devaneios psíquicos. Ao beijar, perde-se a noção de tempo, espaço e lugar. O ato de beijar é o causador de distúrbios e alterações comportamentais. Não há nada mais lindo que a união de dois lábios, transportando física e mentalmente duas pessoas em uma só. Mas, cuidado, beijo também vicia. (Ah… bom se todos os vícios do ser humano fossem igual a esse).


No final das contas, não importa se o beijo for fraterno, com más intenções, somente por provocação ou insinuação, por amor, pra toda vida, ou ainda se for só por sacanagem, só por uma noite. Não importa se o beijo for no nariz, na boca, na bochecha, no pescoço, na mão, no tornozelo, na orelha ou em qualquer outro lugar que sua imaginação e criatividade conduzirem. Não importa se for beijo de língua, selinho ou mordidinhas de prazer. O importante é beijar e desfrutar, desfrutar intensamente. Quanto poder tem o beijo. Que delícia é beijar.



Fonte:


segunda-feira, 6 de setembro de 2021

UM CONTO DE LEILAH ASSUNÇÃO

 


Você diria à sua amada ou a qualquer mulher: “Posso chupar sua vulva?” – Bem, ou ela cairia na risada e quebraria todo o clima erótico ou chamaria você de panaca. Embora, seja esse o termo preciso para designar os órgãos sexuais femininos externos, a palavra “vulva” é muito estranha. Por isso, há milhares de termos para designar a “perseguida”. Nem vou relacioná-los aqui e agora, porque tornaria essa postagem um longo e exaustivo dicionário de termos originais, interessantes, estrambóticos, chulos etc. Assim, vou ficar apenas com esta palavra: BOCETA.




Se você foi fã da série SEX AND THE CITY, talvez se lembre do episódio em que a nossa querida e fantástica SÔNIA BRAGA participa e diz a uma das protagonistas, quando de uma cantada lésbica, que há em português uma palavra muito bonita para designar “vagina” (em inglês: va-djai-na) e solta, de forma deliciosa, a palavra BOCETA.




Pois, então: continuando o texto anterior, em que a “pepeca” era a personagem principal, quando prometemos publicar o texto de Leilah Assunção, aqui está ele. Um conto delicioso, para agradar a todos os públicos:



A PALAVRA

Leilah Assunção




“Xotinha é a das outras. Uma fêmea linda e tesuda como você tem é uma bela de uma bo-ce-ta.”

A palavra estalou no quarto. Como gema de ovo. Gelada. Ribombou nas paredes.

Como tambor. E parou. Parou suspensa. Solidificada.

Leda não sabia se afundava pela terra adentro, se ia embora, ou se fingia simplesmente não ter escutado a palavra horrível.

Não, impossível não ter escutado. Lá estava ela, a palavra, paralisada no ar, não só escutada como soletrada, arregalada, descarada, bo-ce-ta. Horrível. De todas, a única que ela jamais conseguiria pronunciar. Medonha. Quando a via escrita nos muros, lá no Interior, mesmo com bu em vez de bo, se avermelhava toda e virava o rosto. Quando começara a dizer alguns nomes feios, com as meninas do internato, esse era, de comum acordo, feio-além-da-conta, esse era “aquele” que não se ousará nunca dizer. Quando, já moça feita e desinibida, nos amores com o noivo pedia-lhe entre suspiros que “a possuísse logo”, sabia muito bem que os “desvarios” tinham limites claros, que a vulgaridade estava obviamente fora dos limites, e que “essa” palavra então, “essa” palavra destruiria tudo. E agora ali estava, na cama com um estranho, o noivado mal rompido, na cama com um estranho que lhe admirava a bo-ce-ta. Ai, não, que horror, não conseguia sequer “pensá-la” inteira. E a palavra ali na sua frente, boiando e planando, paradona, encarada, encarada, ah meu Deus, que lhe dera na cabeça? Como pôde chegar a isso? A menos de três horas atrás estava com o noivo no restaurante, anel no dedo, móveis comprados, casamento marcado, futuro planejado, definido, garantido. Uma briga de nada, começou com qualquer coisa sobre a roupa colorida dela e ela acabou se mandando do restaurante sozinha. Quando ia entrando no seu prédio viu o moço. Deu bola. Ele seguiu, entrou, agarrou e pronto. Ela deixou. Louca. Não, não dava pra não ter deixado, não dava. O noivado rompido, o clima de aventura, a excitação, o inusitado, o desconhecido. Ela deixou e até ousou bastante, pedindo a um estranho: “Põe, põe na minha xotinha, põe.” Pra escutar aquilo. Que xotinha era a das outras. Que a dela, bem, pra escutar aquilo, aquela resposta-palavra despudorada solta no ar encarando ela, como se sentia ridícula. “Põe, põe na minha xotinha.” Uma débil mental miando baixo, uma menina boba esganiçando fino, uma cavalona com a xotinha impúbere. Ficou se imaginando imensa e com a xota de bebê, um tracinho fino e pelado no meio das pernas compridíssimas, das ancas parideiras, do ventre aveludado, dos seios de macieira. Foi aí então que Leda percebeu que a palavra não estava mais no quarto. Foi só então que ela viu que o som, como que por encanto havia desaparecido da frente dela. Aí ela sentiu. Sentiu numa contração quente e funda, quase doída, que a palavra havia caído e se agarrado nos confins das suas entranhas. Se agarrado feito torniquete contorcendo o útero, tinha virado brasa, bo-ce-ta. Cheia e polpuda, ele continuava, crespa, carnuda, e ele foi lá então, carnuda e saborosa, gostosa, gostosa, e se enfiou, bo-ce-ta, a sua bo-ce-ta, boceta de mulher feita de mulher fêmea desabrochada, exuberante, é carne, é suco, é flor, é fruta, é figo, é figo, é boceta, boceta, e com a língua lá dentro ele beijou e lambeu e chupou e se lambuzou, chupa, ela se escutou falando então, chupa, lambe, morde, assim, molha, cospe e beija e saliva molhado, endurece a língua e enfia firme, assim, deixa ela dura como o teu. . . ca-ra-lho. Essa ela já nem se escutou falando mais. Já estava entregue. Ela já não escutava, nem pensava, nem sabia. E nem sentia. Ela “era” todas as emoções e sentimentos, ela era todas as palavras mais sublimes e as mais chãs, ela era todas as poesias e todos os calões mais baixos, amor, amor, ela falava, mesmo sabendo que esse tesão não era amor ela falava amor, não te conheço e te amo, vem amor, me fode com esse teu pau gostoso, não, você não tem pau, você tem ca-ra-lho, pau é o dos outros, você tem ca-ce-te, de homem macho plantado firme, de base sólida se levantando rijo, me dá, me deixa apalpar, assim, me dá, é meu, me deixa passar os lábios e te sentir com a língua, duro, firme, decidido, deixa que a minha boca te engula inteiro, e te sugue e sugue e chupe e nos lambuzemos juntos, vem, investe firme neste meu campo teu, escoiceia e enfia fundo, me entala com o teu talo forte e me estala, me arrebenta, tome posse desse poço, caramba, que foi que eu disse, não sei mais se apenas penso ou digo e faço, eu enlouqueço, e Leda então também beijou e lambeu e chupou e se lambuzou, queria morrer agora e nos cristalizar assim neste prazer tão doido e eternizar este meu gozo novo, este meu gozo único, este meu gozo, ah, caceta, não sei se penso ou falo, fazemos, vem meu tesão louco, desvairado assim, assim, vem, bem fundo, enfia e queima lá no fundo, é de lá que eu... vem amor, ah, me trepa e mete, eu enlouqueço, junto comigo agora, vem meu amor, agora, o gozo nosso, eu vou.... ah, amor, meu amor... meu am... Gritaram juntos. As contrações e o gozo foram completamente inverbalizáveis. A impressão era que depois do gozo eles dois planaram e depois pousaram, relaxando calmos, como se fossem santos. Fecharam os olhos e assim ficaram muito tempo, deitados de mãos dadas, agora sem falar e nem pensar nada. Então ele acariciou os cabelos dela e disse seu nome, Luiz, mas ela pediu silêncio. Então ela mentiu que era casada e que o marido ia chegar. Ele se levantou, mudo, vestiu-se. Rabiscou o telefone num papel, jogou sobre a cadeira e foi-se embora. Ela se espreguiçou, andou um pouco pelo quarto, amassou o papel que estava na cadeira e jogou no lixo, displicentemente. O telefone tocou, era o noivo dela, ela disse que ele tinha um pirulito e ela uma bela de uma boceta, e desligou. Vestiu-se cantarolando, alegre, pela primeira vez na vida sentia-se liberta, segura e solta, dona de si e do mundo. Pegou a bolsa, abriu a porta, chamou o elevador. Saiu pra rua. Nunca tinha visto antes uma noite linda como aquela, o ar tão fino e puro, o céu tão estrelado, nunca se sentira antes tão assim, sem medos, tão assim dona de si, do mundo, e de todos os homens do mundo. Um cara passou e falou que não sabia que boneca andava, ela pensou que cretino e continuou andando. O segundo cara disse que ela era a nora que a mãe dele sonhava, ela pensou que imbecil e continuou andando. Dois, três, cinco quarteirões e finalmente o quarto cara que mexeu com ela fez um barulho molhado com a boca e disse—“ô tesuda, posso dar uma chupada nessa sua boceta gorda?” Ela parou e olhou pra ele. Ficou olhando, e escutando. Ficou esperando. Mas nada. Ela esperando e nada. Nada. Não havia meio, a palavra continuava lá, suspensa e horrorosa. Não havia meio de a palavra cair e se contrair no fim do fundo das suas entranhas e do seu útero. Ficava lá, suspensa e paradona em cima da cabeça dele, sem tesão nem excitação nenhuma, apenas chapada, feia, arregalada e arreganhada. Pornograficada. Ela então voltou pra casa, foi até o lixo, desamassou o papel, foi até o telefone e discou.

“Luiz? Olha, eu não sou casada não e...”’

E foram felizes pra sempre.






(Status Literatura No. 76A.)

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

A SUA “PEPECA” É BONITA?


Xotinha é a das outras. Uma fêmea linda e tesuda como você tem é uma bela de uma bo-ce-ta.” Assim Leilah Assunção inicia o texto A PALAVRA (que você vai poder ler aqui mesmo, proximamente).



O que é uma bela boceta?



Bem,há bocetas para todos os gostos: lisas, cabeludas, pequenas, grandes, em forma de flor, com muitas pregas etc.  E sempre que se trata da boceta sob o ponto de vista estético, a visão tem sido sempre a masculina. Vamos reparar um pouco isso.



O que as próprias mulheres pensam sobre suas vulvas, em termos de beleza? Será que isso é mesmo importante? Onde ficam a autoestima das mulheres, quando são os homens que julgam se elas são ou não bonitas “lá em baixo”? E a visão preconceituosa que muitos homens têm em relação às bocetas, dando-lhes apelidos estranhos ou dizendo que cheiram a isso ou àquilo. Bem, vamos dar a palavra a uma mulher, que ela tem muito a nos dizer sobre isso:

  

QUÃO BONITA É A SUA PEPECA?

Fabiana Gomes

E então, gatinha, tá feliz com a sua pepeca? E seus parceiros ou parceiras, o que acham dela? E a sociedadji? O que diz a sociedadji sobre a sua pepeca?



Opa! Espera um minuto. A sociedade precisa ter uma opinião sobre sua pepeca? Vamos seguindo o baile aqui pra tentar entender. Até quando está permitido ser bonita?



Acho que, antes mesmo de a gente caminhar em direção à beleza da nossa "amiga", talvez pudéssemos começar por essa nomenclatura tolinha, infantilizada. Por que ainda é tão difícil nomearmos com naturalidade o órgão sexual feminino?



Quais possíveis associações podem ser feitas a alguns dos neologismos empregados para se referir a essa parte do corpo da mulher? Perseguida, periquita, florzinha, perereca — quase sempre nominhos fofos e associados ao universo infantil.

(Foto de Nobuyoshi Araki)


E quando se usa, por exemplo, a palavra "buceta"? Faz-se um pesado silêncio no ambiente. Que palavrão! Em comparação, palavras para denominar o pênis são amplamente utilizadas e aceitas na sociedade, até mesmo entre os defensores da moral e dos bons costumes.



E muitas vezes elas servem para atribuir grandeza ou potência a algo: "Nossa, o show foi do caralho!", "Esse restaurante é pica demais!", "Esse livro é bom pra cacete!". Nunca nada é "da buceta" ou "pra buceta". Isso não. Sempre do caralho e pro caralho. É falocentrismo que fala? (Ou melhor, falo?)



Na sequência do estudo de substantivos, vamos dar só uma passadinha rápida na classe de anatomia, pra gente ficar na mesma página antes de eu chegar onde quero.



Se ainda existirem dúvidas, vulva e vagina são coisas diferentes. A primeira é o que está por fora: grandes e pequenos lábios e o nosso amigão clitóris (se ele ainda não é seu amigão, você precisa dar um aconchego nele e fazer um carinho, pois ele costuma ser muito receptivo). A segunda compreende o que está por dentro. É o canal que recobre o colo do útero e se abre na vulva.



"Oi, linda, você vai falar do que hoje, afinal? Sexo? Psicanálise? Pedofilia? Não era pra tá falando de beleza?" Nossa, é mesmo. Acabei me perdendo de novo em divagações aqui. Voltando ao tema do dia.



Sim, senhoras, agora parece haver padrões de vulva e de vagina a serem seguidos. E aí a gente pode discutir mais um padrão de beleza para mulheres, né?



Para quem não sabe, nos últimos anos, um sem fim de procedimentos vêm sendo disponibilizados e realizados nos consultórios médicos para modificar características da genitália feminina.



Quando pensei em escrever esse texto, eu tava com algumas convicções sobre os procedimentos puramente estéticos. Mas meu pensamento me levou, como de costume, para um lugar questionador. Nutrida, então, pela curiosidade, fui tentar entender alguns deles. Para tanto, conversei com a ginecologista Elsa Aida Gay de Pereyra.



Com um currículo extenso na área, é atualmente médica Doutora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia e Coordenadora do Ambulatório de Sexualidade Humana na Clínica de Ginecologia do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP. E ela me deu uma aula sobre os tais procedimentos.



O ponto aqui é: sim, vários deles não dizem respeito à estética. Estão ligados à saúde física e também à saúde mental da mulher, já que tocam em pontos ligados à autoestima, que podem interferir na satisfação em relações sexuais. Eles melhoram significativamente a funcionalidade e sustentação de importantes estruturas, e as mulheres podem se beneficiar dessas operações em diferentes momentos da vida, como o pós-parto ou em casos de terapias de bloqueio dos ovários em tratamentos contra o câncer de mama.



Em resumo, dra. Elsa me disse que, mais do que seguir a linha de pensamento da estética, parece que o grande lance das intervenções é explorar o conceito de funcionalidade da vagina.


Mas isso não me afasta (de forma alguma) de levantar as questões que eu queria trazer para a coluna de hoje. Por isso, depois de trazer a visão médica positiva sobre os procedimentos na vagina, retorno para as provocações que me trouxeram até aqui.


Meus balões de dúvidas iniciam sua subida quando noto que parece haver um movimento pregando a existência de uma única estética aceitável. Um determinado tipo de xana, que, em linhas gerais, precisa ser sempre jovem, lisa e clara. Qual é o ponto aqui? Muitos símbolos a serem discutidos.



Não é novidade que existam muitos mecanismos de controle na sociedade, alguns sutis e outros mais explícitos. Portanto, é preciso estar sempre vigilante. Aqui, talvez uma das grandes responsáveis pelo culto à pepeca rosa, pelada, carnuda e apertadinha seja a indústria pornográfica (e seus consumidores).


Quem são essas pessoas? Perversos que vivem em grutas secretas debaixo da terra? Hmm, acho que não, né? Se pá, tem algum mais perto do que você imagina. E, a partir disso, proponho outro raciocínio: quem tem essas características na xoxota? Essa indústria e seus consumidores incitam e promovem essa estética, raramente incluindo xotas reais, xotas como a sua e as das minas ao seu redor.


Os títulos de filmes e vídeos são um caso a parte. Um caso de polícia, eu diria. É toda uma profusão de novinhas isso, novinhas aquilo, e teens por toda parte nas chamadas, reforçando o padrão. E não tô falando da "deep web", não. Tô falando daquele Tube Vermelho logo ali à mão.


Essa pressão estética acaba levando muitas mulheres a buscarem cirurgias plásticas, reconstruções, mutilações e "desconfigurações" dos próprios corpos, mais uma vez para atender a um padrão estético imposto por uma sociedade que não está preocupada com o bem-estar feminino.



Pra encerrar, como já é uma tradição nossa, gostaria de propor a boa e velha reflexão. Há mesmo um padrão relacionado às regiões íntimas da mulher? Ele precisa existir? Quem instituiu e quais as razões disso? Como esse padrão pode afetar nossas vidas e em quais níveis? Estamos felizes ou não com nossas características? Se não, por que não?



O grande ponto, mais uma vez, é: precisamos ter o direito de escolha sobre o que queremos ou não fazer com nossos corpos. Ninguém tá autorizado a falar que a sua amigona é errada, feiosa, derrubada, fedida, peluda, grande demais, pequena demais, escura demais. Se algo te incomodar nela, pense no motivo por estar te incomodando. Se quer mudar, pense em por que quer mudar e como essas mudanças vão interferir na tua vida.



E para conhecer e acolher outras vulvas, dá uma passeada descompromissada no perfil @the.vulva.gallery, @vagina_museum, @mydearvagina e @ishowflag_isback no Instagram. Busque a obra do artista britânico Jamie McCartney intitulada "The Great Wall of Vagina". Observe quantos "modelos" existem e sinta o poder da representatividade. Quanta diferença. Viva a diferença!



Fonte:

https://www.uol.com.br/universa/colunas/fabi-gomes/2020/09/07/quao-bonita-e-a-sua-pepeca.htm (07/09/2020

ANTES E DEPOIS: MULHERES NEGRAS

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