terça-feira, 16 de janeiro de 2024

QUEM VÊ CARA NÃO VÊ BOCETA... MAS AGORA VÊ, SIM!

 


Fotografias do sexo feminino em close têm sempre alguma coisa um tanto frustrante. Deseja-se ver “o outro rosto”. Pois, isso é possível através de um livro magistralmente intitulado RETRATOS DE BOCETAS, da estadunidense Frannie Adams.


Ela ganha a vida fotografando mulheres e, às vezes, sua boceta em close. E são essas fotos em close que ela publicou no livro PUSSY PORTRAITS. Mas, não apenas a boceta: ela pulica também o close do rosto da dona, num fascinante diálogo visual entre o sexo e o rosto.

A gente se surpreende a olhar as dobras e plissados dos pequenos lábios com a mesma atenção com que olhamos as bocas e a cor dos olhos... à procura de uma lógica. É possível adivinhar como pode ser o sexo de uma mulher vendo apenas o seu rosto? E o contrário? Frannie Adams responde: “Já faz um ano que tiro fotografias duplas e, pessoalmente, fico desconcertada quando uma mulher tira sua calcinha. Cada vez é uma surpresa. É possível que algumas pessoas consigam estabelecer correspondências, ou “ler” as vulvas com a mesma acuidade que alguns psicólogos leem suas expressões faciais... mas este não é o meu caso”.

As modelos que aceitaram posar para esse livro são geralmente modelos “tímidas, mas orgulhosas de seus corpos”, assegura Frannie. “Algumas são até mesmo exibicionistas e adoram se deixar fotografar”. Fica evidente que efetivamente elas amam isto: pode-se ver a olho nu o sexo que aflora. Tiradas à luz do flash, a maior parte das vulvas brilham, mucosas húmidas exsudando ligeiramente uma espécie de secreção que goteja às vezes do oco de algumas fendas. “Não há nenhum truque, assegura Frannie, nada de gel ou de lubrificantes. As modelos estavam excitadas. Acontece muitas vezes durante as sessões de fotos, porque – para poder tirar closes – eu me aproximo muito. Eu sinto seu calor. Eu sinto seu odor. E elas sentem que eu sinto. Há uma verdadeira relação de proximidade”.

Frannie escolheu suas modelas apenas pelo rosto. “Era preciso que elas fossem variadas (de todas as origens), belas e autênticas. Eu queria mulheres verdadeiras, não manequins magricelas. Elas têm entre 18 e 25 anos”. De modo surpreendente, os rostos são tão variados quantos os sexos. Incrível diversidade de lábios e de clitóris. A gente se crê numa arca de Noé genital: cada espécie representada por uma vulva diferente. Há as discretas, aquelas que se parecem com pequenas canoas, com fendas ou com fechaduras. Há as espetaculares, que desfraldam velas ao vento como navios. Há as artísticas, que cultivam suas excrescências e circunvoluções como cogumelos mágicos... Se este livro devesse ter uma moral, seria: “cada boceta é única, e viva a diferença!”

Aí estão algumas dessas fotos, para sua apreciação, leitor e leitora deste blog, curiosos e apreciadores de bocetas:

























quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

O SONETO DO OLHO DO CU




Duas histórias – literárias – da França:

Em 1869, Albert Mérat, um poeta parnasiano, publicou um livro de sonetos chamado L’Idole (O ídolo), em que descreve poeticamente, em versos rebuscados, o corpo da amada. Há, então, sonetos para cada um dos membros: soneto dos olhos, da boca, dos dentes, do nariz, da orelha, dos seios, do ventre, das pernas, do pé etc. Um banquete de anatomia.

Por essa mesma época, reuniam-se Verlaine, Rimbaud, Coppée e outros simbolistas, ou antiparnasianos, num grupo autodenominado “zutique” ou “zutiste”, termo usado para indicar desprezo, irritação com alguém. O objetivo desse grupo de poetas era ridicularizar os parnasianos e zombar de todos, até deles mesmos, com irreverência e bom humor.

Verlaine e Rimbaud (nem vou dizer que foram amantes, nem que eram homossexuais, isso é irrelevante) logo perceberam que faltava aos poemas de Mérat uma parte preciosa do corpo da amada: Le cul (o cu).

Assim, resolveram cobrir essa lacuna (sem duplo sentido, por favor!) e fizeram, a quatro mãos (ou a quatro dedos, sei lá!), o SONETO DO OLHO DO CU. Com o objetivo claro de zombar de Mérat que ficou tão puto, que nem posou para o famoso quadro de Henri Fantin-Latour, Le coin de table (Canto de mesa). No seu lugar, há um vaso de flores. Note-se que Verlaine está à esquerda e que era mais velho que Rimbaud, o que não impediu... deixa pra lá, nada de fofocas!

"Coin de table" - Henri Fantin-Latour (da esquerda à direita, Paul Verlaine, Arthur Rimbaud, 
Elzeár Bonnier, Léon Valade, Émile Blémont, Jean Picard, Ernest d'Hervilly e Camille Pelletan)


Algumas observações sobre o poema, seu estilo e dificuldades de tradução:

1. Palavra “cul” não está explícita no poema, mas somente no título;

2. Quanto ao título, “Le trou du cul”, literalmente seria “o buraco do cu”; mas aceitei a tradução mais comum, para nós, de “o olho do cu”;

3. Segundo o próprio Verlaine, ele escreveu os quartetos e Rimbaud teria escrito os tercetos;

4. Esse poema, juntamente com os demais, que compunham um conjunto, só foi publicado quase três décadas depois;

5. O poema é complexo, cheio de metáforas sensoriais, com palavras até mesmo arcaicas ou eruditas, com rimas ricas e raras, denotando todo o virtuosismo característico dos dois poetas, o que dificulta bastante sua tradução;

6. O poema tem, pelo menos, quatro versões, apresentadas pelos próprios autores, mas as diferenças entre elas não são muito significativas;

7. O historiador Marcos Silva, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e professor de História dessa mesma Universidade, publicou um trabalho bastante interessante sobre esse poema, intitulado “Rir do corpo: paródia e riso num poema de Rimbaud e Verlaine”;

8. Informa-nos o professor Silva que, em 1991, José Celso Martinez Corrêa e Marcelo Drummond, do Grupo Oficina, traduziram esse poema e o incluíram na montagem da peça “As boas” (Les Bonnes), de Jean Genet, dando realce à face homoerótica do poema, numa recriação livre, sem rigidez de métrica e rimas. Essa tradução foi musicada e gravada por José Miguel Wisnik.

Eis o poema, no original, em uma de suas versões:

LE SONNET DU TROU DU CUL

Par Arthur Rimbaud et Paul Verlaine

(Druuna: Serpieri)

Obscur et froncé comme un oeillet violet,

Il respire, humblement tapi parmi la mousse

Humide encor d'amour qui suit la fuite douce

Des Fesses blanches jusqu'au coeur de son ourlet.

Des filaments pareils à des larmes de lait

Ont pleuré, sous l'autan cruel qui les repousse

A travers de petits caillots de marne rousse,

Pour s'aller perdre où la pente les appelait.

Mon Rêve s'aboucha souvent à sa ventouse;

Mon âme, du coït matériel jalouse,

En fit son larmier fauve et son nid de sanglots.

C'est l'olive pâmée, et la flûte caline

C'est le tube où descend la céleste praline:

Chanaan féminin dans les moiteurs enclos!



Agora, a tradução literal, de minha autoria, sem preocupação com rima, ritmo e sonoridades (apenas para que o leitor que não domine o francês saiba exatamente do que se trata):

O SONETO DO OLHO DO CU

de Arthur Rimbaud e Paul Verlaine




Obscuro e plissado como um cravo roxo,

Ele respira, humildemente escondido no musgo

Ainda úmido de amor que desce pelas curvas suaves

Dos glúteos brancos até o coração de sua borda.



Filamentos semelhantes a lágrimas de leite

Choraram, sob a tempestade cruel que os expulsa

Por entre pequenos coágulos de argila vermelha,

Para se perder onde as encostas os chamava.



Meu sonho abocanhou muitas vezes sua ventosa (1);

Minha alma, do coito material ciumenta,

Ali fez seu lacrimal selvagem e seu ninho de soluços.





É o fruto encantado(2), e a flauta delicada

É o canal por onde se esvai a celestial pralina (3):

Canaã(4) feminino nas umidades encerrado(5)!


Notas:

(1) “Ventouse”, creio, tem, aí o significado de “orifício”, “abertura”e não, exatamente, “ventosa” (aparelho de sucção).

(2) Olive pâmée: “olive” é azeitona; já o adjetivo “pamée” é particípio do verbo “pâmer”, que é arcaico, e significa “cair em síncope”, “desamaiar” (tomado de uma emoção) “de amor”, “de felicidade”, “de desejo” etc. O adjetivo “pâmant” siginifica “algo que suscita admiração, encantamento”. Portanto, a expressão “olive pamé” é uma metáfora para algo, no caso, um fruto, extraordinário, admirável, que provoca êxtase.

(3) Pralina: amêndoa confeitada.

(4) Canaã: terra prometida, ideal ou idealizada, onde os rios vertem mel e azeite.

(5) Observe que, neste último terceto, o poeta retoma as “umidades”(metáforas tácteis) da primeira estrofe, ao mesmo tempo que se refere, como na lenda bíblica, a rios de mel e azeite, em metáforas sonoras (flauta), olfativas, visuais e gustativas (pralina). O poema, em francês, quase impossível de ser traduzido, é uma cornucópia de elementos sensoriais.


Há várias versões desse poema, para inúmeras línguas. Como curiosidade, uma das versões em inglês, por Oliver Bernard (Collected Poems, 1962):

SONNET TO AN ASSHOLE


Dark and wrinkled like a purple pink

It breathes, nestling humbly among the still-damp

Froth of love that follows the gentle slope

Of the white buttocks to its crater's edge.

Filaments like tears of milk

Have wept in the cruel wind which pushes them back,

Across little clots of reddish marl

To lose themselves where the slope called them.

My dream has often kissed its opening;

My soul, jealous of physical coitus,

Has made this its fawn-coloured tear-bottle and its nest of sobs.

It is the rapturous olive and the wheedling flute,

The tube from which the heavenly burnt almond falls:

Feminine Canaan enclosed among moistures.



E, com vocês, duas versões (ou recriações) em português:


SONETO DO OLHO DO CU

Tradução de Heoloísa Jahn



Obscuro e franzido como um cravo roxo,

Humilde ele respira escondido na espuma,

Úmido ainda do amor que pelas curvas suaves

Dos glúteos brancos desce à orla de sua auréola.

Uns filamentos, como lágrimas de leite,

Choraram, ao vento inclemente que os expulsa,

Passando por calhaus de uma argila vermelha,

Para escorrer, por fim, ao longo das encostas.

Muita vez minha boca uniu-se a essa ventosa;

Sem poder ter o coito material, minha alma

Fez dele um lacrimário, um ninho de soluços.

Ele é tonta azeitona, a flauta carinhosa,

Tudo por onde desce a divina pralina,

Canãa feminino que eclode na umidade.


(Para ser caluniado – Poemas Eróticos, tradução de Heoloísa Jahn)



SONETO DO OLHO DO CU


(Tadução de Marcos Silva)




Obscuro e pregueado cravo violeta

Respira, humildemente no meio da espuma

Inda úmida de amor que em doce encosta ruma

Da brancura da bunda à beirada da meta.



Filamentos tais como lágrimas de leite

Choraram, sob o vento cruel que os repele,

Através de coágulos de barro em pele,

P’ra se perder depois onde a encosta os deite.



Mi’a boca se ajustou muita vez à ventosa

Minh’alma, do coito material invejosa,

Fez ali lacrimal e de soluços ninho.



Azeitona em desmaio e taça carinhosa

O tubo onde desce celeste noz gostosa

Canaã feminino em suor muradinho!




Bem, aí está, portanto, o resgate em termos poéticos de uma parte do corpo humano que os humanos em geral consideram sujo e indigno de menção, a não ser em situações de extrema irritação, quando emerge das bocas menos insuspeitas o famoso “vá tomar no cu”. Verlaine e Rimbaud, dois dos maiores poetas de todos os tempos, provam que o ser humano, essa maravilha ainda imperfeita de milhares de anos de evolução, não pode ter preconceitos em relação a seu próprio corpo, nem o poeta (ou escritor) preconceitos ou medos em relação às palavras. Nada é sujo, nada é sagrado: tudo é natural.





terça-feira, 28 de novembro de 2023

CANDAULISMO

 


Candaulismo é o prazer de ver a parceira simplesmente sendo exposta à vista de outras pessoas, se divertindo ou fazendo sexo com outra pessoa. É uma prática masculina, mas há também mulheres candaulistas.


A prática candaulista masculina mais comum é a de homens que se contentam que outros homens apreciem suas mulheres, babem por elas. Isso pode reacender a chama da paixão. Mas muitos a praticam por razões como por uma incapacidade física qualquer (impotência, cansaço ou qualquer outra coisa) ou ainda por idade avançada que os impede de fazer amor com a companheira. E esse último motivo pode ser uma forma de compensação, como o fato de terem família, filhos, de ainda se amarem, mas eles não querem privar a parceira, por exemplo, mais nova, do prazer sexual.


Em muitos casos, o casal pode participar de um clube libertino ou de um site libertino e será o marido quem vai escolher quem vai transar com a sua esposa, tendo até mesmo o poder de interromper o ato a qualquer momento, se não se sentir à vontade ou confortável.


Homens bissexuais ou homossexuais podem, de alguma forma, satisfazer sua fantasia de sexualidade por meio do candaulismo, vendo outro homem foder sua parceira ou parceiro. No entanto, não tire conclusões precipitadas: na maioria das vezes não é porque você vai foder a parceira ou o parceiro de outro homem na frente dele que esse homem necessariamente vai-se deixar tocar, ele está de fato excitado pelo ato, só pelo espetáculo.



Muitos homens se empolgam com a ideia do candaulismo, pela possibilidade de excitação que ele oferece. Mas, atenção: você tem que estar confortável com a ideia de estar com outro homem na sala, com a energia masculina dele, sua ereção, e também precisa de boa comunicação com o outro casal (se for o caso) e ter certeza de que isso os empolga, que é realmente o que eles querem, que ninguém vai ficar com ciúmes depois.


Também deve haver um outro cuidado por parte da mulher: ela não deve aceitar do novo parceiro o que ela recusa ao seu homem, esse tipo de prática pode ser desaprovada, por provocar situações constrangeras para o próprio casal. E mais: o amante e a esposa não devem se encontrar novamente em segredo, isso deve permanecer uma prática de devassidão com o consentimento de cada um, não deve ser levado para o terreno da traição.


Um risco que se corre em práticas sexuais com outros parceiros são as doenças sexualmente transmissíveis, as DSTs, e uma gravidez não desejada. Então, é claro que tem que se proteger, obrigar o convidado a usar sempre camisinha, para que ele fique à vontade e consiga uma boa ereção para homenagear a mulher.


Para encerrar, o candaulismo não é prerrogativa dos homens, mesmo que haja uma grande maioria de homens candaulistas. Algumas mulheres também apreciam a prática de ver o seu homem trepando com outras mulheres, e assim como eles, se tocam e se masturbam com o espetáculo. E o protocolo para elas é exatamente o mesmo que para os homens, os mesmos cuidados, para obterem o prazer que é ver o parceiro tendo prazer com outra pessoa.

(Jean-Léon Gérôme - El rey Candaules)


Nota do blog: O candaulismo tem origem numa história contada por Heródoto, sobre o rei Candaules e sua esposa. O texto, você pode encontrá-lo, no blog TRAPICHE DOS OUTROS, neste endereço: 




(Do original em francês, assinado por Fabrice Julien. Tradução e adaptação do blog).

Fonte:

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

PRIAPO, UM DEUS MENOR, MAS MUITO POTENTE...

 


“A Priapeia é um conjunto de poemas em grego e em latim a respeito de Priapo, divindade que tem como principal característica o falo ou o membro genital enorme.”


“A figura de Priapo originou-se das imagens fálicas diante das quais se desenvolviam as orgias dionisíacas. Nas festividades de Dioniso, ocorria a a falofória, procissão em que um enorme falo era transportado pelo falófaro, sacerdote ‘que porta o falo’. [*]



Entre os séculos III e II a.C., a imagem de Priapo é colocada nos jardins e nas hortas, como forma de proteção contra ladrões. Selecionamos alguns poucos poemas da priapeia grega e latina, como exemplo não só do culto ao deus, mas também do tipo de proteção que os poetas expressavam ao colocá-lo como deus de seus jardins. Divirta-se com os belos paus em posição de descanso e eretos, num antes e depois que vai dar água na boca dos apreciadores do deus priapo:


(Nota: a pronúncia correta é mesmo PRI-Á-PO, não príapo, como aparece na maioria dos textos que tratam do deus).



PRIAPEIA GREGA




Em todos meu priapo enfio até em Cronos:

ladrão algum na horta discrimino.

Por legumes e abóboras dirão que não

convém dizê-lo. Não convém mas digo.



- “Maduros vejo os figos. Se me permitires

colher alguns...” - “Não toques nem num só!”

- “Priapo irado!” - “E peço-te um favor, e não

Virás em vão: me dá, que estou carente!”

- “Queres algo de mim? Diz!” - “Há uma lei: QUEM DÁ

RECEBE”. - “Tu, que és deus, queres dinheiro?”

- “Quero outra coisa.” - “O que é?” - “Após comer meus figos,

Teu figo aí detrás me dá contente.”


PRIAPEIA LATINA




O que deixa molhada em mim a parte

que dá indícios de que sou Priapo

não é orvalho, crede, e nem geada,

mas o que sói por si sair de dentro

se a mente evoca alguma jovem puta.





Não vás corar, Priapo, só porque

te pesa o teso pau, porque o censura

este poeta em versos seus: maior

volume não tens que o poeta.





Não vás dizer que não te dei aviso:

chegas roubando; partes arrombado.




Se a doçura de um figo desejares

e a mão quiseres esticar aqui,

olha p’ra mim, ladrão, pondera o custo

em peso que será cagar meu pau.


[*] Fonte: João Angelo Oliva Neto, in FALO NO JARDIM – PRIAPEIA GREGA, PRIAPEIA LATINA; traduções do autor.

ANTES E DEPOIS: MULHERES NEGRAS

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